120
Estava, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
121
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre antes seus olhos te traziam,
Quando dos teus fermosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam.
E qundo, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.
122
De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas
Quando um mgesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas
O velho pai sezudo, que casar-se não queria
O murmurar do povo, e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
123
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo c’o sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor mauro, fosse alevantada
Contra ua fraca dama delicada?
124
Traziam-na os horríficos algozes
Ante o rei já movido a piedade.
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,
125
Pera o Céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos,
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando)
Um dos duros ministros rigorosos),
E despois, nos mininos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:
quinta-feira, 26 de março de 2009
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